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domingo, 23 de maio de 2010

COMUNICAÇÃO E JORNALISMO AMBIENTAL

Bruno Latour (1994) descreve a proliferação de híbridos na imprensa e comenta artigo que mistura reações químicas e políticas com ciências, ficção, esoterismo e globalização da ecologia. Trazendo esta situação para o tema da seca e desertificação no semiárido pode-se encontrar matérias e reportagens que colocam no mesmo patamar as queimadas, saques a prefeituras e armazéns, políticas públicas e políticas partidárias, a falta de chuva, distribuição da água em carros pipas, meteorologistas e adivinhos, mesclando conhecimento, interesse, poder e política com o tema ambiental.

Latour (1994) aponta para a crise da crítica, indicando três repertórios distintos para se falar do mundo: naturalização, socialização e desconstrução. O primeiro, segundo ele, ao falar de fatos naturalizados, exclui a sociedade, o sujeito e a forma de discurso. O segundo, quando se refere ao poder sociologizado, deixa de lado a ciência, a técnica, o texto e o conteúdo. E o terceiro, “... fala de efeitos de verdade, seria atestado de grande ingenuidade acreditar na existência real dos neurônios do cérebro ou dos jogos de poder” (Op. Cit. p. 11). Tal como a modernidade, indicada por Latour, o ser ambiental terá tantos sentidos quantos forem os jornalistas.

Uma das grandes preocupações dos participantes da Rede Brasileira de Jornalistas Ambientais (RBJA) é justamente a definição do que é “jornalismo ambiental”. Um longo debate ocorrido na Rede Internet sobre a natureza do jornalismo ambiental trouxe à luz comparações e opiniões diversas.

Para o professor da Universidade Vale do Itajaí, Sérgio Luís Boeira, existe a parte do jornalismo ambiental que é marginalizada e a outra que é ressaltada. O "bom" jornalismo ambiental é, nesta ótica, o que faz os remendos institucionais e ensina os cidadãos a se comportarem direitinho (fusão com a educação ambiental convencional, acrítica, e também com o chamado "marketing verde"), enquanto o "mau" jornalismo ambiental é aquele que insiste em denúncias, investigações e ataques generalizados ao sistema ou às grandes corporações.

Boeira explica que “as limitações da expressão Jornalismo Ambiental estão fundamentalmente na ideia de que ela serve de campo (no sentido que Bourdieu dá ao termo), quando na realidade ela é subcampo do campo mais antigo denominado Jornalismo Científico”. Para o autor, o desafio do Jornalismo Ambiental é “não só defender o diálogo entre as ciências, mas também desfazer os nós institucionais que mantêm a disciplinaridade, o funcionalismo, o paradigma disjuntor-redutor literalmente ‘no poder’”. Enfim, ser ambiental no jornalismo está além das clássicas perguntas, o quê?, quem?, como?, onde? e por quê? Tempo, espaço e mudança de paradigmas são fundamentais para o bom jornalismo e o jornalismo ambiental deve perpassar todas as editorias do periódico.

O Diretor de Redação da Agência Envolverde, Adalberto Wodianer Marcondes, disse no I Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental (2005), em Santos, São Paulo, que espera ver extinto o jornalismo ambiental, “uma vez que todas as pautas deveriam ter a transversalidade dos temas ambientais juntamente com os econômicos e sociais”:
Estamos mergulhados em uma era de transformações. A famosa e prevista sociedade da informação já está nos atravessando como uma imensa onda. O volume de dados e informações disponíveis para a sociedade e para os jornalistas nunca foi tão grande. O desafio para os jornalistas é atuar como um gestor desta informação e, ao mesmo tempo, ser capaz de buscar a relevância em seu trabalho cotidiano.
A pauta ambiental, pois, acompanha o jornalista para toda a vida. É consenso entre os jornalistas da RBJA que a matéria ambiental “reproduz o contexto, examina as relações, produz tensões e evidencia as desigualdades, escancarando as cumplicidades e as contradições”. Mas não é tão simples realizar o trabalho jornalístico quando se sabe que não existe sistema de produção neutro. “Tenho a absoluta convicção de que o jornalismo neutro, equidistante, o de ouvir equilibradamente os dois lados não existe”, costuma dizer e repetir o jornalista e professor de jornalismo da ECA/USP, Wilson da Costa Bueno.

Audálio Dantas em matéria sobre “catadores de caranguejos” usa o ponto de vista dos caranguejos. Exagero? Não. “O jornalismo ambiental, assim como a questão ambiental em si, abraça todas as variáveis, processos e estruturas e exige olhar mais abrangente e, ao mesmo tempo, mais profundo”, diz Bernardo Heisler Mota.

O jornalismo ambiental é “multi, trans, interdisciplinar; é elaborado dentro do espírito crítico mais aguçado e traduz o jargão ecológico para o entendimento popular”, opina o secretário-geral do Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul, Roberto Villar Belmonte. A reportagem é mais ampla, abrangente e complexa, pois “leva em consideração, o saber tradicional, o povo da floresta”, complementa Wilson Bueno, da Rede Ethos de Jornalistas.

O advogado e jornalista Washington Novaes, quando é apresentado como “ambientalista” ou “jornalista especializado em meio ambiente” costuma dizer que é apenas “jornalista”. Uma coisa não deve, não pode estar dissociada da outra, pois “é preciso ver tudo nessa teia de relações”. A Década do Impasse (2002), série de artigos escritas por Novaes entre 1992 e 2002 e publicados em diferentes periódicos nacionais, é um verdadeiro manual de jornalismo ambiental. Para Novaes, “não é possível fazer de conta que a chamada problemática ambiental seja separada do econômico, do social, do cultural”.

André Trigueiro, jornalista e professor da PUC, Rio de Janeiro no livro Mundo Sustentável (2005) mostra como a problemática ambiental deve ser tratada na mídia (Rádio, TV, Jornal) trazendo ampla abordagem sobre o que é o “consumo consciente”.

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