Translate

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Caminhando em Fortaleza: um olhar crítico sobre a cidade

Ao deambular em Fortaleza, o pedestre tem a percepção de como ela se transmuta rapidamente. Bairros residenciais vão se transformando em edifícios de condomínios cada vez mais fechados. As pessoas, em consequência, vão desaparecendo das ruas e das poucas calçadas que ainda resistem aos usos privados e indevidos providenciados pelo homem. Quanto mais periféricos os bairros, maior é a possibilidade de ainda vermos pessoas nas ruas, nas calçadas, nas casas. Nestes bairros, existe maior parecença com aquilo que significa uma cidade, pelo menos para os que têm hoje mais de 40 anos de idade; seja, uma cidade com ruas, praças, esquinas, gente e com certo nível de comunicação pessoal.

Brasília, construída ainda na década de 50 do século passado, é uma dessas cidades pós-modernas, que, segundo Bauman e Maffesoli (1998), perderam “os elementos que antes estruturavam a modernidade” e agora “não mais encontram estruturação no jogo econômico contemporâneo”. Estas cidades da era atual são caracterizadas por grandes avenidas, prédios de apartamentos e sem esquinas. A vida dá-se aí nos inúmeros centros comerciais, clubes de entidades de classe ou particulares e nas diversas agremiações. Estes espaços de convivência comum são transformados naquilo que Marc Augé (2001) denomina de não-lugares. Algumas pessoas não conseguem se acostumar com essa ideia e voltam para suas origens ou procuram locais mais adequados, segundo seus critérios, para viver.

As cidades não contemporâneas, como Fortaleza, pouco a pouco vão se transformando em outras cidades que já não cabem mais dentro dela. Rapidamente se esquece o que esteve ali onde hoje é um prédio residencial de 30 andares, uma farmácia, um Banco, uma lanchonete ou mesmo um estacionamento para abrigar os carros que visitam os centros comerciais que pululam nos arredores. Como nas cidades invisíveis de Ítalo Calvino (1990), o homem em Fortaleza passou a viver uma cidade que existe apenas nas suas lembranças, nos livros de história ou nos cartões postais. A nova cidade virou uma metrópole, que em nada lembra aquela que resiste na nostalgia de nossa memória.

Este rompimento com o passado é bem nítido em Fortaleza nos bairros da Aldeota, onde foram apagados quase que por completo os traços da convivência residencial de outras épocas e da Praia de Iracema, que se transforma em “manchetes” das páginas policiais dos jornais e dos conteúdos de programas sobre violência urbana que pululam nas emissoras de TV locais. A Praia de Iracema é um bairro que passou de uma pacata vila de pescadores do início do século passado, para ser um bairro residencial. Transformada depois em uma região de lazer e entretenimento (bares, restaurantes, boates e similares) a Praia de Iracema vive hoje o ostracismo contemporâneo da pós-modernidade. Passou de algo útil para a sociedade para abrigar prédios de luxo, ocupados esporadicamente por seus proprietários e “inferninhos” que atraem o turismo sexual ou acabam servindo à marginalidade.

Esgotadas as possibilidades de exploração econômica destes dois espaços da cidade de Fortaleza (Aldeota e Praia de Iracema), incluídos aí estão Meireles, Varjota e Papicu, a especulação imobiliária e econômica volta-se agora para o bairro de Fátima. Aqui também, ela já começa a transformar em comércio ou em condomínios as residências ainda existentes nas proximidades da Avenida 13 de Maio. É a sanha da especulação imobiliária, que descaracteriza o bairro, transforma o trânsito em um verdadeiro caos e pode espalhar-se por outras áreas, circunvizinhas, como é o caso do Jardim América, Montese, Damas e Parquelândia.

Em Fortaleza, é triste constatar que, em benefício de segmentos sociais de alto poder econômico e político, “os signos de pertencimento foram subjugados e destruídos em nome de uma dinamização política e econômica que trabalha na perspectiva de um eterno rompimento com o passado” (BENEVIDES, 2003, p. 227).

Perguntar para Não Concluir...

Quantas cidades existem dentro de uma cidade? Depende do olhar de cada um. A cidade pode ser apenas um ícone, a percepção sensível de signos ou um índice, que dá apenas pistas e vestígios do que realmente ela é. A cidade pode ser tão somente um símbolo da sociedade de consumo, com normas e regras de um padrão autorreferente. Tudo depende da nossa disposição e relação com a cidade. Pode não ser possível quantificar as cidades que existem dentro da cidade, mas esta quantidade pode ser igual ao número de significados de um signo. Afinal, cada qual vê a cidade de acordo com a sua disposição e individualidade.

Para melhorar o ambiente, a locomoção e o bem-estar de todos na cidade de Fortaleza, cabe ao poder público municipal a efetivação de seu papel como gestor e fiscalizador das obras e da utilização de espaços públicos e, à população, o dever de zelar pelo conforto e o respeito ao código de obras e posturas do município. Como, por exemplo, não jogar lixo nas ruas. Alguns vizinhos de minha rua e porteiros de um condomínio aqui em frente jogam lixo na calçada aqui ao lado e em um terreno baldio que existe colado à minha casa. O lixo entope os bueiros, os ratos proliferam e a Prefeitura não toma qualquer providência, mas aumentou o IPTU que devo pagar agora em 2011. Porém, este é um assunto que poderá ser tema para outro artigo.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Desembargador Washington Luis Bezerra de Araújo

Toma posse hoje, ás 17 horas, o desembargador Washington Luis Bezerra de Araújo, no Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, Cambeba. Juiz Titular da Vara da Fazenda Pública, o dembargador Washington foi o mais votado entre os três deembargadores escolhidos por merecimento em reunião extraordinária do Pleno do Tribunal de Justiça.

Filho de Chico Araújo e Antonina Bezerra, Washington tem como avós maternos os cearenses dos sertões dos Inhamuns e de Crateús, Barra do Riacho Seco, Luiz Bezerra de Menezes Lima e Ana de Sena Bonfim. Nascido em Campo Maior, Piauí, após formar-se em direito e prestar concurso para juiz, o desenbargador Washington atuou em diversas comarcas até chegar à capital, Fortaleza.

Tenho certeza que o velho Chico Araújo, lá de onde estiver, e Antonina Bezerra, ambos, os grandes homenageados in memoriam nessa festa de hoje, estão orgulhosos de seu filho, que o pai, um dia, pensou em ver esculápio, mas da área da medicina. Tem agora, um doutor na área jurídica, que, por mérito próprio, chega ao topo da carreira dentro da Justiça do Estado do Ceará. Com certeza, pelo brilho que tem, o desembargador Washington Luís Bezerra de Araújo chegará a presidente do Tribunal e tem respaldo para, no futuro, ser nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça.

Tios e tias, irmãos e irmãs, parentes e amigos, alguns vindos de bem longe, hoje se engalanam para prestigiar a solenidade de posse e prestar a mais justa homenagem pelo grande feito desse personagem ilustre da família. De parabéns está toda a família, em especial, rendemos homenagem à Dra. Gilda Leite, a esposa, que o acompanha e apoia em toda essa jornada. De parabéns também está a Justiça do Estado do Ceará por ter em seus quadros uma pessoa de tão alta qualificação.

Parabéns, Doutor Washington, e muito sucesso!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Violência sem fim

Dentro de poucos dias a violência sem fim, que se alastra em Fortaleza e no Estado do Ceará, atingiu em cheio pessoas próximas e muito próximas a mim. Um parente foi brutalmente assassinado na frente de seu filho de seis anos de idade, durante um assalto, no Bairro Montese, não muito longe do Extra, quando retornava da padaria. Somente porque fez o gesto de colocar a mão no bolso para retirar a carteira para entregar...

Um amigo da família e colega de escola de minha filha desde os dois anos de idade até terminar o segundo grau, foi espancado de forma selvagem em um dos banheiros do Dragão do Mar, no Bairro Praia de Iracema, por cinco assaltantes, que agem por ali impunemente. Seu "pecado": ter apenas 20 reais para entregar. Saiu muito machucado, está sem poder falar e não sei quando irá recuperar-se do trauma...

Meu filho e minha mulher foram assaltados ontem à noite, por volta das 20 horas, quando saíam tranquilamente do curso de inglês, nas cercanias da Praça Argentina Castelo Branco, Bairro de Fátima, por dois indivíduos, que há muitos anos circulam pelo bairro fazendo assaltos em uma moto impunemente. Dessa vez, graças a Deus, os prejuízos foram só de ordem material. Felizmente, mas até quando?

Fora da família, mas não menos estarrecedores e lamentáveis outros crimes estão acontecendo na Capital, na Região Mtropolitana e no interior. Moradores de rua são assassinados a tiros todas as semanas. Semana passada, em menos de 72 horas três jovens foram assassinados em assaltos que ocorrem diuturnamente em transportes coletivos na cidade. A violência por aqui parece não ter fim, apesar das mudanças nos comandos das polícias, da criação do Ronda do Quarteirão, pouco vistos pela cidade. Mas o problema é de outra ordem e estrutura. É necessário haver uma radical mudança de paradigmas, desconcentração de renda e lucros exorbitantes de empresas e grupos financeiros. Maior investimento na educação, sem a qual, o quadro de violência que está aí só tende a agravar-se.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

OS BURACOS ESTÃO MAIS EM CIMA...

Recebi por e-mail do Paulo Maciel e posto aqui. A mobilidade urbana em Fortaleza está um verdadeiro caos. O importante desse texto é que ele chama a atenção para o pedestre. Se de carro está complicado, tente andar a pé em uma cidade onde as calçadas são ocupadas por mesas de bares e restaurantes, carros, ambulantes, comércios, além de serem construídas sem qualquer código de posturas, ao bel prazer dos usuários ou proprietários dos imóveis e em níveis e desníveis de até 1 metro de uma para a outra.

Verdade!... Os buracos nas ruas são um incômodo. Entretanto, o que mais me incomoda é a percepção unilateral dos administradores de nossas cidades, belas ou não.

Onde está a unilateralidade?

Naquela mesma percepção de quem está na direção de um automóvel sem retrovisor, e com os vidros laterais tapados, sentiram o drama?

Poderia dizer também naquela visão de quem nunca anda a pé.

Para estes ou estas, sugiro que se aventurem a sair por uma calçada qualquer de sua cidade....

Desfrutem a percepção dos transeuntes...

Sintam-se como uma criança brincando de amarelinha pulando de buraco em buraco (nas calçadas em frente às suas casas)

Façam-se de atletas saltando obstáculos das calçadas em frente às lojas do centro cheias de interessantes obstáculos tais como: automóveis, bicicletas, orelhões, caixas, carrinhos de vendedores, mercadorias desde aquelas vendidas por camelôs até aquelas expostas por conceituadas lojas. Tem de tudo, de tabuleiros com pares de meias a guarda-roupas e geladeiras.

Imaginem-se homens e mulheres comuns, correndo atrapalhados zigue-zagueando nas calçadas que por lei são passeio público, entre entulhos, lixões, buracos, mercadorias, veículos estacionados, tudo obstruindo justamente a estreita faixa que resta a nós, reles cidadãos e cidadãs que pelejamos por andar a pé...

Obrigados a descerem muitas vezes para o asfalto... se sucumbirem atropelados a culpa é do pobre ou da pobre que não tem juízo por andar no meio da rua. Ah, mas também há outro culpado: o buraco no meio da rua!....

Se conseguirem, imaginem-se como alguém da terceira idade... tentando se deslocar de sua residência até a padaria da esquina ou à farmácia mais próxima pelas vias "públicas" que lhes são disponibilizadas...

Bem, espero que esta reflexão sirva de alguma forma para que os administradores municipais repensem suas responsabilidades para com a cidadania. Revejam conceitos e percepções.

Após isso, posicionem-se de maneira diferente. Não sejam envolvidos pela visão da sociedade do automóvel onde apenas os buracos no asfalto são vistos. Uma sociedade onde um artefato de ferro, plástico e vidro vale mais que a vida em carne e osso não pode ser sustentável e muito menos exibir qualquer beleza...

Desculpem o romantismo....

Paulo Maciel

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A internet e os novos hábitos

Por Vilmar Sidnei Demamam Berna*


Até bem pouco tempo atrás, coisa de dez ou vinte anos, quando a internet não era tão popular, se recebêssemos uma carta pelos Correios, nos sentíamos na obrigação, por pura cortesia e boa educação, de dar uma resposta, principalmente se viesse de alguém conhecido. Hoje, com a internet, recebemos dezenas, centenas, de mensagens por e-mail, de conhecidos e desconhecidos, num volume sobre humano, muito além de nossa capacidade de conseguir ler, entender, e muito menos responder. E se antes uma carta tinha endereço certo, hoje, as mensagens espalham-se em ondas, em cópias às claras ou ocultas, onde a palavra privacidade parece ter perdido o significado. O mundo inteiro parece ter se tornado um grande BBB, uma espécie de ' reality show', onde a intimidade fica exposta para quem quiser dar uma 'espiadinha'.

Não resta a menor dúvida que a internet entrou definitivamente em nossas vidas e não há mais como mudar isso, até por que não queremos menos, queremos é mais. Em alguns casos, a internet mudou nossas vidas para melhor. Por exemplo, não dependemos mais de algum editor para intermediar nosso acesso aos leitores. Agora, qualquer um pode escrever qualquer coisa e postar na internet. Somos humanos, e tudo o que é humano nos interessa e nos diz respeito. Assim, são grandes as chances de ser lido quase que instantaneamente, pois sempre haverá alguém conectado no mesmo assunto ou interesse. Isso abriu uma enorme possibilidade de democratização da informação e do pensamento, rompendo barreiras e dando a exata dimensão da Aldeia Global que nos tornamos. Claro, também aumentou a quantidade de bobagens que se lê na internet.

Se antes a idéia de Globalização era apenas uma realidade comercial, depois da internet virou uma realidade para todo mundo. Talvez a internet venha a possibilitar a que a espécie humana descubra e venha a exercer na natureza o papel de consciência de Gaia. Claro, se nossa estupidez não nos levar à extinção antes.

Talvez a existência da internet venha facilitar as articulações globais que levarão a humanidade a enxergar além do próprio umbigo e olhar o mundo como uma ilha no Universo, onde todos têm o mesmo destino comum e não temos para onde ir. Sem planeta, não haverá vida possível para nenhum de nós. Com a internet, pode surgir uma chance para a humanidade que esteja além dos nossos governos, atados em seus compromissos, acordos, segredos, burocracia, onde a regra é cuidar apenas dos próprios quintais, enquanto demonstram sua incapacidade de apreender e cuidar do todo. A internet pode vir a possibilitar o fortalecimento de uma nova cidadania ambiental planetária.

Outra vantagem da internet é que se antes os poderosos podiam controlar e censurar a informação, agora ficou quase que impossível. Alguns governos até tentam bloquear certos termos e palavras nos servidores, ameaçam os que ousam democratizar informações que não querem que cheguem ao público, mas a cada bloqueio, os internautas descobrem um atalho novo. Mais cedo ou mais tarde, as autoridades compreenderão que o mundo mudou, e que hoje, com a internet, a era de censura e segredos terá de ficar para trás.

E se antes, tínhamos de selecionar os assuntos de nosso interesse no meio de um monte de informação que não nos interessava, com a internet e seus mecanismos de busca e de alerta, podemos escolher com precisão os assuntos de nosso interesse e os próprios servidores se encarregam de encontrar a informação que queremos e enviar gratuitamente para nossa caixa postal. Se antes tínhamos de nos limitar às informações disponíveis na língua que entendíamos, agora, com os sistemas automáticos de tradução, passamos a ter acesso a informações antes inimagináveis.

Entretanto, nem tudo são flores. A internet é uma ferramenta, e como toda ferramenta pode ser usada para construir ou destruir, para o bem ou para o mal. Por exemplo, hoje, conseguimos ficar mais conectados e também mais distantes uns dos outros. Temos ´milhões´ de amigos virtuais e pouco tempo para cultivar amigos no mundo físico, olho no olho, um abraço, um aperto de mão. Sabemos facilmente o acontece do outro lado do mundo, mas não conseguimos saber do que acontece em nosso bairro ou na vizinhança onde moramos.

Antes, para estar razoavelmente informado sobre o dia a dia bastava dar uma olhadinha nas manchetes dos jornais na banca da esquina e, diante de um assunto mais interessante, bastava ler um jornal, no máximo dois. Hoje, as informações e notícias invadem diariamente nossas caixas de e-mail, e ainda que sejam filtradas por temas de nosso interesse, ainda assim são num volume muito maior que nossa capacidade de conseguir ler e absorver tudo de importante e de urgente. Os fatos já vêm acompanhados de suas versões e contraversões, o que é ótimo, um avanço fantástico, mas que requer leitura atenta, em vez de apenas uma olhadinha. A internet expõe de forma concreta o que já sabíamos em teoria. Tudo é relativo, não existem verdades absolutas, tudo depende do olhar de cada observador.

Antes, uma mensagem que nos chegasse com um pedido de urgência era urgente, e pronto, não admitia questionamento. Hoje, urgente são apenas as nossas urgências e não mais a dos outros. Antes, quando recebíamos informações sobre confirmação de pagamento ou depósito em nossa conta, tratávamos logo de tomar ciência e até gastávamos por conta. Hoje, com certeza ou é vírus ou é golpe. Antes, tínhamos como nos livrar fácil de pessoas indesejáveis, dos chatos e ansiosos, hoje, elas encontram sempre um jeitinho de se fazerem presentes em nossas vidas. Antes, tínhamos nossas próprias angústias e prioridades de luta por um mundo melhor, hoje, temos de lidar também com as angústias alheias e com as dezenas de boas causas e boas lutas de todo mundo que não conseguimos dar conta ainda que nos desdobrássemos em mil. Antes, recebíamos notícias de parentes distantes e revíamos nossos amigos uma vez ou outra, hoje eles compartilham conosco de nosso dia a dia virtual.

Com a internet, precisamos repensar uma nova ética para nossos relacionamentos, não só com o outro, mas com nossa noção de urgência, de importância. A internet é apenas uma ferramenta, poderosa e ainda quase desconhecida em suas potencialidades, e que tanto pode servir para nos ajudar quanto para nos atrapalhar. Precisamos escolher o que vai ser.

* Vilmar Sidnei Demamam Berna é escritor e jornalista, fundou a REBIA - Rede Brasileira de Informação Ambiental (www.rebia.org.br ) e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente) e o Portal do Meio Ambiente ( www.portaldomeioambiente.org.br ). Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas – http://www.escritorvilmarberna.com.br/

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Os Sertões nos tempos de Antônio Conselheiro

Gosto muito de escutar Rádio, veículo que sempre tem muitas coisas a ensinar. Em todos os horários, sejam as emissoras FM ou AM, há sempre alguém dando alguma dica ou uma música interessante para se ouvir. Aqui em Fortaleza, a Rádio Verdes Mares, AM, tem uma vasta que começa nos alvores da aurora, avança pela tarde, anoitece e cresce em qualidade quando chega a madrugada e acontece o show dos comunicadores Moreira Brito e Sílvio Augusto, às vezes atuando juntos ou separados, e que conta também com a participação dos ouvintes. Às vezes, eu deixo de dormir para ficar ouvindo essa turma.

Mas hoje eu quero falar do programa que inicia o dia, comandado pelo comunicador Paulo Oliveira, tem o seu ápice às 7h15min com o comentário do Tom Barros. Hoje, dia 1 de fevereiro, o advogado cearense Paulo Quezado compareceu nesse horário para falar sobre Antônio Conselheiro, o grande personagem de Canudos. O livro A Odisseia de um Nordestino..., escrito por um funcionário do DNOCS, relata que a mãe de Conselheiro teria provocado uma tragédia na vida do filho, ao colocar na cabeça dele que a sua esposa estaria traindo-o. Mandou o filho programar uma viagem e ficar na espreita que, à noite, ele veria um homem pulando o muro da casa dele. Assim foi feito. A própria mãe do Conselheiro vestiu-se de homem e pulou o muro, recebendo diversos tiros de Conselheiro, que entrou na casa e matou a mulher.

Quezado contestou essa estória. Disse que ela teria sido inventada lá pela Bahia, onde o Conselheiro incomodava muita gente do poder político e da Igreja. Isso nunca existiu, asseverou o advogado, emobra exista uma desilusão amorosa na vida de Conselheiro, o que o fez sair errante pelos sertões, pregando o fim dos tempos. Tornou-se essa figura, que precisou de um exército inteiro para ser vencido.

Euclides da Cunha, que cobriu os fatos dessa guerra para um jornal paulista, escreveu um dos clássicos da reportagem literária do país, Os Sertões, com inúmeras edições em variados idiomas e que completou 100 anos em 12 de janeiro de 2002. A propósito desse aniversário e a saga de Antônio Conselheiro, descrita por Euclides da Cunha, descobri na Internet algo que escrevi à época para a Agência Adital e que posto novamente agora.

Os 100 anos de Os Sertões


Os Sertões, de Euclides Rodrigues da Cunha, primeira edição em dois de dezembro de 1902, é um livro que retrata a saga de Antônio Conselheiro e seus seguidores. Entrincheirados em Canudos, eles foram combatidos por exércitos e batalhões, que chegaram a reunir, segundo os mapas dos batalhões, 5.871 militares no dia 30 de setembro de 1897.

O registro das principais efemérides da campanha de Canudos, publicado na 27ª edição, dá conta que em outubro de 1896 o juiz de direito de Juazeiro solicita ao governador da Bahia providências para garantir a povoação, pois, segundo constava, ela seria assaltada pelos jagunços de Conselheiro.

Em 4 de novembro foram enviadas forças com 100 praças. Dia 19 elas chegam a Uauá e são atacadas de madrugada pelos jagunços, que perdem 150 homens, matam 10 soldados e ferem 16. O médico enlouquece e a força bate em retirada para Juazeiro.

Dia 25 de novembro uma força de 200 praças e 11 oficiais segue para Queimadas. No mês seguinte ela recebe um reforço de 100 praças da Bahia. Chegam a Monte Santo, no dia 29 de dezembro, 543 praças, 14 oficiais e 3 médicos. Este contingente segue para Canudos no dia 12 de janeiro. O primeiro combate acontece no dia 18, na Travessia do Cambaio e resulta em 4 mortos e mais de 20 feridos. Tombaram mortos 115 jagunços.

A força prossegue sua marcha para Canudos, dia 19, e enfrenta o segundo combate, resultando em mais quatro baixas, mais de 30 feridos e acima de 300 jagunços mortos. No dia seguinte, já em retirada, a força enfrenta o seu terceiro combate, elimina mais 20 jagunços e prossegue sua retirada para Monte Santo.

Em 8 de fevereiro chega a Queimadas a expedição comandada por Moreira César com 1.300 homens. Esta expedição chega a Monte Santo no dia 20 e no dia seguinte segue para Canudos com 1.281 homens. No dia dois de março Moreira César é mortalmente ferido e falece no dia três.

Em 5 de abril é organizada a quarta expedição a Canudos com seis brigadas em 2 colunas. A 16 de junho, parte de Jeremoabo a coluna Savaget com 2.350 homens.

Dia 19 de abril parte, de Monte Santo, o general Oscar, com a 1ª e a 3ª Brigadas, acompanhado de 1.933 homens. A coluna Savaget chega a Coroboró no dia 25 e acontece o primeiro combate que produz 27 mortos entre as 78 baixas. É ferido o general Savaget.

Daí a Macambira, no dia 26, acontece o segundo combate. São mais 48 baixas com 40 mortos. Dia 27 de junho chega ao Alto da Favela a 1ª coluna com o general Oscar. São mais 75 baixas. Nesse dia chega também a Canudos a coluna Savaget. O combate do dia 28 produz outras 524 baixas entre os jagunços.

No dia 1º de julho os jagunços assaltam o acampamento. No dia 18, o assalto das forças ao Arraial produz 947 baixas. E no dia 31, reúne-se em Queimadas a Brigada Girard com 1.042 praças e 68 oficiais.

Em agosto, dia três, parte de Queimadas a brigada Girard. Dia 10, ela arriba de Monte Santo para Canudos. Chega a Juetê no dia quatro. É atacada e perde 91 bois.

Dia cinco mais duas brigadas chegam à Bahia formando uma divisão, sob o comando do general Carlos Eugênio. Dia 24: bombardeio das igrejas de Canudos. É derrubado o sino.

Em setembro, seis, caem as torres da igreja nova. No dia sete, conquista-se a Fazenda Velha, a Trincheira Sete de Setembro e a estrada do Calumbi.

No dia 15, no Combate de Caxomongó, os jagunços perdem mais duas trincheiras e 13 cargueiros. No dia 22 falece Antônio Conselheiro. No dia quatro completa-se o cerco de Canudos e são feitos os primeiros prisioneiros.



Na noite do dia seis acontecem quatro ataques violentos dos jagunços. Na noite seguinte eles fazem mais oito ataques. Os jagunços não replicam os bombardeios durante o dia 28, mas passam a noite respondendo ao tiroteio até a manhã do dia 29.

No dia 1º de outubro de 1897 acontece o assalto final a Canudos. São arrojadas 90 bombas de dinamite. Nesse dia morre Tupi Caldas e acontecem 567 baixas. No dia seguinte são feitos mais de 300 prisioneiros. Todos velhos, mulheres e crianças.

Os quatro últimos defensores de Canudos tombaram no dia cinco, quando foram destruídas todas as casas do Arraial, num total de 5.200, cuidadosamente contadas. E no dia seis é feita a exumação do cadáver de Antônio Conselheiro, que havia sido descoberto pelas tropas.

"Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia cinco, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados".

Assim termina o relato de Euclides da Cunha sobre a Guerra de Canudos. Das 100 edições de Os Sertões, 24 são em língua estrangeira: Espanhol, Inglês, Francês, Italiano, Alemão, Holandês e Dinamarquês. Há duas edições de Portugal. Alguns livros podem ter sido baseados na obra de Euclides, como, por exemplo, A Guerra do Fim do Mundo, de Mário Vargas Llosa. Muitas teses de doutorado já existem sobre o tema. (*Fonte: Zacharias Bezerra de Oliveira, da Adital) (Atual: http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=1653&cod_canal=34)