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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Os Sertões nos tempos de Antônio Conselheiro

Gosto muito de escutar Rádio, veículo que sempre tem muitas coisas a ensinar. Em todos os horários, sejam as emissoras FM ou AM, há sempre alguém dando alguma dica ou uma música interessante para se ouvir. Aqui em Fortaleza, a Rádio Verdes Mares, AM, tem uma vasta que começa nos alvores da aurora, avança pela tarde, anoitece e cresce em qualidade quando chega a madrugada e acontece o show dos comunicadores Moreira Brito e Sílvio Augusto, às vezes atuando juntos ou separados, e que conta também com a participação dos ouvintes. Às vezes, eu deixo de dormir para ficar ouvindo essa turma.

Mas hoje eu quero falar do programa que inicia o dia, comandado pelo comunicador Paulo Oliveira, tem o seu ápice às 7h15min com o comentário do Tom Barros. Hoje, dia 1 de fevereiro, o advogado cearense Paulo Quezado compareceu nesse horário para falar sobre Antônio Conselheiro, o grande personagem de Canudos. O livro A Odisseia de um Nordestino..., escrito por um funcionário do DNOCS, relata que a mãe de Conselheiro teria provocado uma tragédia na vida do filho, ao colocar na cabeça dele que a sua esposa estaria traindo-o. Mandou o filho programar uma viagem e ficar na espreita que, à noite, ele veria um homem pulando o muro da casa dele. Assim foi feito. A própria mãe do Conselheiro vestiu-se de homem e pulou o muro, recebendo diversos tiros de Conselheiro, que entrou na casa e matou a mulher.

Quezado contestou essa estória. Disse que ela teria sido inventada lá pela Bahia, onde o Conselheiro incomodava muita gente do poder político e da Igreja. Isso nunca existiu, asseverou o advogado, emobra exista uma desilusão amorosa na vida de Conselheiro, o que o fez sair errante pelos sertões, pregando o fim dos tempos. Tornou-se essa figura, que precisou de um exército inteiro para ser vencido.

Euclides da Cunha, que cobriu os fatos dessa guerra para um jornal paulista, escreveu um dos clássicos da reportagem literária do país, Os Sertões, com inúmeras edições em variados idiomas e que completou 100 anos em 12 de janeiro de 2002. A propósito desse aniversário e a saga de Antônio Conselheiro, descrita por Euclides da Cunha, descobri na Internet algo que escrevi à época para a Agência Adital e que posto novamente agora.

Os 100 anos de Os Sertões


Os Sertões, de Euclides Rodrigues da Cunha, primeira edição em dois de dezembro de 1902, é um livro que retrata a saga de Antônio Conselheiro e seus seguidores. Entrincheirados em Canudos, eles foram combatidos por exércitos e batalhões, que chegaram a reunir, segundo os mapas dos batalhões, 5.871 militares no dia 30 de setembro de 1897.

O registro das principais efemérides da campanha de Canudos, publicado na 27ª edição, dá conta que em outubro de 1896 o juiz de direito de Juazeiro solicita ao governador da Bahia providências para garantir a povoação, pois, segundo constava, ela seria assaltada pelos jagunços de Conselheiro.

Em 4 de novembro foram enviadas forças com 100 praças. Dia 19 elas chegam a Uauá e são atacadas de madrugada pelos jagunços, que perdem 150 homens, matam 10 soldados e ferem 16. O médico enlouquece e a força bate em retirada para Juazeiro.

Dia 25 de novembro uma força de 200 praças e 11 oficiais segue para Queimadas. No mês seguinte ela recebe um reforço de 100 praças da Bahia. Chegam a Monte Santo, no dia 29 de dezembro, 543 praças, 14 oficiais e 3 médicos. Este contingente segue para Canudos no dia 12 de janeiro. O primeiro combate acontece no dia 18, na Travessia do Cambaio e resulta em 4 mortos e mais de 20 feridos. Tombaram mortos 115 jagunços.

A força prossegue sua marcha para Canudos, dia 19, e enfrenta o segundo combate, resultando em mais quatro baixas, mais de 30 feridos e acima de 300 jagunços mortos. No dia seguinte, já em retirada, a força enfrenta o seu terceiro combate, elimina mais 20 jagunços e prossegue sua retirada para Monte Santo.

Em 8 de fevereiro chega a Queimadas a expedição comandada por Moreira César com 1.300 homens. Esta expedição chega a Monte Santo no dia 20 e no dia seguinte segue para Canudos com 1.281 homens. No dia dois de março Moreira César é mortalmente ferido e falece no dia três.

Em 5 de abril é organizada a quarta expedição a Canudos com seis brigadas em 2 colunas. A 16 de junho, parte de Jeremoabo a coluna Savaget com 2.350 homens.

Dia 19 de abril parte, de Monte Santo, o general Oscar, com a 1ª e a 3ª Brigadas, acompanhado de 1.933 homens. A coluna Savaget chega a Coroboró no dia 25 e acontece o primeiro combate que produz 27 mortos entre as 78 baixas. É ferido o general Savaget.

Daí a Macambira, no dia 26, acontece o segundo combate. São mais 48 baixas com 40 mortos. Dia 27 de junho chega ao Alto da Favela a 1ª coluna com o general Oscar. São mais 75 baixas. Nesse dia chega também a Canudos a coluna Savaget. O combate do dia 28 produz outras 524 baixas entre os jagunços.

No dia 1º de julho os jagunços assaltam o acampamento. No dia 18, o assalto das forças ao Arraial produz 947 baixas. E no dia 31, reúne-se em Queimadas a Brigada Girard com 1.042 praças e 68 oficiais.

Em agosto, dia três, parte de Queimadas a brigada Girard. Dia 10, ela arriba de Monte Santo para Canudos. Chega a Juetê no dia quatro. É atacada e perde 91 bois.

Dia cinco mais duas brigadas chegam à Bahia formando uma divisão, sob o comando do general Carlos Eugênio. Dia 24: bombardeio das igrejas de Canudos. É derrubado o sino.

Em setembro, seis, caem as torres da igreja nova. No dia sete, conquista-se a Fazenda Velha, a Trincheira Sete de Setembro e a estrada do Calumbi.

No dia 15, no Combate de Caxomongó, os jagunços perdem mais duas trincheiras e 13 cargueiros. No dia 22 falece Antônio Conselheiro. No dia quatro completa-se o cerco de Canudos e são feitos os primeiros prisioneiros.



Na noite do dia seis acontecem quatro ataques violentos dos jagunços. Na noite seguinte eles fazem mais oito ataques. Os jagunços não replicam os bombardeios durante o dia 28, mas passam a noite respondendo ao tiroteio até a manhã do dia 29.

No dia 1º de outubro de 1897 acontece o assalto final a Canudos. São arrojadas 90 bombas de dinamite. Nesse dia morre Tupi Caldas e acontecem 567 baixas. No dia seguinte são feitos mais de 300 prisioneiros. Todos velhos, mulheres e crianças.

Os quatro últimos defensores de Canudos tombaram no dia cinco, quando foram destruídas todas as casas do Arraial, num total de 5.200, cuidadosamente contadas. E no dia seis é feita a exumação do cadáver de Antônio Conselheiro, que havia sido descoberto pelas tropas.

"Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia cinco, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados".

Assim termina o relato de Euclides da Cunha sobre a Guerra de Canudos. Das 100 edições de Os Sertões, 24 são em língua estrangeira: Espanhol, Inglês, Francês, Italiano, Alemão, Holandês e Dinamarquês. Há duas edições de Portugal. Alguns livros podem ter sido baseados na obra de Euclides, como, por exemplo, A Guerra do Fim do Mundo, de Mário Vargas Llosa. Muitas teses de doutorado já existem sobre o tema. (*Fonte: Zacharias Bezerra de Oliveira, da Adital) (Atual: http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=1653&cod_canal=34)

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