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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O protocolo de Kyoto

Você, certamente, já ouviu falar na mídia ou leu na imprensa sobre o protocolo de Kyoto. Mas será que sabe, realmente, do que se trata? Redigido no Japão, na cidade que determinou o seu nome, em 1997, o protocolo de Kyoto é um tratado internacional, pelo qual os países industrializados, membros da Organização das Nações Unidas, comprometem-se a reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa. A finalidade é reduzir o aquecimento global e buscar amenizar os impactos ao meio ambiente devido ao modelo de desenvoolvimento industrial e de consumo em voga no mundo atual.

Uma das principais diretrizes do protocolo de Kyoto é justamente que os países dito desenvolvidos busquem reduzir as emissões de gás carbônico em 5,2%, em relação qo que fora emitido em 1990,  no máximo até 2012. Este prazo que era, na época da assinatura do protocolo de 15 anos, agora é de apenas um ano! Uma coisa, porém, nesse aspecto dos tratados internacionais, é redigir um acordo, outra coisa é conseguir a sua ratificação entre os países para possibilitar a sua entrada em vigor. Podemos recordar o que ocorreu com o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (http://alfabeta-zacharias.blogspot.com/2010/05/acordo-ortografico.html). As assinaturas para ratificar o protocolo de Kyoto começaram a ser colhidas em 1998, mas a entrada em vigor só foi possível em 2004, com a ratificação do protocolo por 55 países.

Até o momento, um total aproximado de 100 países já procederam à ratificação do documento. Muitos ainda não assinaram, pois alegam que as exigências do protocolo poderiam afetar o "desenvolvimento" dos seus países e acarretar uma recessão. Outros ainda questionam a validade das teorias sobre aquecimento global. Os Estados Unidos, o maior emissor de gases poluentes do mundo, e que atravessa uma crise de recessão, todavia, não assinaram o dito protocolo.

Até quando o Planeta suportará tamanho descaso? Fica a pergunta para a nossa reflexão.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Cabo Verde: uma nação bilíngue

A língua é, seguramente, um dos elementos fundamentadores e estruturantes da identidade cabo-verdiana. Por isso, não se aborda este tema sem que se dê àquela um destaque especial. Cabo Verde tem a feliz ventura de possuir uma língua materna – o crioulo – falada por todo o seu povo, quer dentro, quer fora das ilhas. O crioulo é o principal elo de ligação e o melhor instrumento identidário do povo cabo-verdiano. Apesar das diferenças dialectais que possam existir entre as diversas variantes, de ilha para ilha, em geral, entendem-se em crioulo, seja qual for a ilha de que seja oriundo o falante ou o seu interlocutor. Em qualquer parte do mundo em que se encontre, o caboverdiano pode falar a língua do país em que reside ou que o acolhe, mas, seguramente, fala a sua língua materna. Enfim! O que une, indelevelmente, os cabo-verdianos (de Angola, de Cabo Verde, dos Estados Unidos da América, de França, da Guiné Bissau, da Holanda, da Itália, do Luxemburgo, de Moçambique, de Portugal, do Senegal, de S. Tomé e Príncipe, etc., etc.) é, antes de mais e sobretudo, a sua língua comum, a sua língua materna – o crioulo. Não há dúvidas, pois, que o crioulo está na essência da identidade do cabo-verdiano. Por isso mesmo, não se compreendem algumas interrogações ou, mesmo, alguma resistência que se opõe ao reconhecimento ou assumpção do crioulo como uma das línguas oficiais de Cabo Verde (ALMADA, 2006, p. 17).

O ethos cultural caboverdiano e a globalização econômica, política e cultural faz de Cabo Verde uma nação bilíngüe. No aeroporto de Fortaleza, por exemplo, nas chegadas e partidas dos vôos da Companhia de Transportes Aéreos Cabo Verde (TACV), é comum escutar cidadãos e cidadãs expressando-se com garbo no idioma crioulo. Muitos brasileiros ficam curiosos para saber que língua eles estão falando. É o idioma nacional. É isso que lhes dá uma identidade enquanto povo, enquanto nação.

Na verdade, se o rio é a certeza de que existe o lugar geográfico, como bem frisa Manoel Fernandes de Sousa Neto (1996), parafraseando Adélia Prado, podemos afirmar que a língua é a garantia de que um povo existe enquanto nação. No País Basco, por exemplo, povo que sobresiste, apesar de estar inserido em territórios geográficos da Espanha e da França, é considerado nacional Euskaldun aquele que fala a língua basca, como bem o diz a própria acepção da palavra. Podem, assim, todos os caboverdianos, ser considerados uma grande nação, pois estão consagrados pelo uso comum de um língua que a todos une como Pátria, Mátria, Frátria (GOMES, 2008, p. 43).

Embora não esteja ainda oficializado, do ponto de vista formal e gramatical, o crioulo é uma língua de tradição oral e já é ensinada até nos Estados Unidos, especialmente na região da Nova Inglaterra, onde vivem milhares de caboverdianos (2006, p. 19). No entanto, o alfabeto unificado para a escrita do crioulo (ALUPEC) já se encontra dotado de um alfabeto próprio com gramáticas, dicionários e livros de lição publicados. Pode-se dizer, portanto, que em Cabo Verde existem duas línguas oficiais: o Português e o Crioulo. O bilingüismo em Cabo Verde ainda está, é verdade, em processo de construção, mas, por sua natureza e circunstância histórica de colonização, o caboverdiano pode ser considerado desde já um povo bilíngüe.

O crioulo, a língua materna, une angolanos, caboverdianos, guineenses, moçambicanos, senegaleses, tomeenses e nacionais destes países nascidos além-mar e os transformam em povos de uma só nação. O português é a língua oficial, fruto da colonização por Portugal. Obviamente que em algumas nações e também para os que nasceram e se criaram em países de fala não portuguesa o bilingüismo pode ser crioulo-francês, crioulo-inglês ou crioulo-holandês. “O crioulo está de tal forma entranhado na identidade cabo-verdiana, que não é possível pensar o cabo-verdiano sem a sua língua materna, como ele próprio não se pensa e não existe sem a sua língua” (2006, p. 25).

Apesar da colonização por Portugal, são muitas as razões históricas e culturais que aproximam Cabo Verde dos Estados Unidos da América e do Brasil, até mesmo mais que da Europa. No país norteamericano vivem tantos caboverdianos quanto em Cabo Verde, podendo-se viver culturalmente em certas regiões, notadamente na Nova Inglaterra, em muitos aspectos como se estivesse vivendo em Cabo Verde. Já com o Brasil, além da proximidade geográfica, há laços históricos, culturais e de civilização que ligam os dois povos.

“Os cabo-verdianos sentem-se tão próximos, culturalmente e por características psicossomáticas, dos brasileiros, que os nossos poetas e cantores já chamaram Cabo Verde de “Brasilinho”, assim como hoje, já há brasileiros dizendo que o “Brasil é um grande Cabo Verde” (2006, p. 39). Do ponto de vista da economia, esta proximidade com o Brasil atrai muitos empresários, notadamente do ramo comercial, de Cabo Verde para o Brasil. Neste aspecto, o Serviço de Apoio às Pequenas e Médias Empresas do Ceará (Sebrae) mantém um serviço de apoio e cooperação com Cabo Verde.