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domingo, 12 de setembro de 2010

O Desenvolvimento Sustentavel

Enrique Leff (2000), em seu estudo sobre ecologia, capital e cultura acredita que o desenvolvimento sustentável é possível se tiver como base uma perspectiva ecossistêmica, na qual o crescimento se dá a partir de um processo “ecologicamente sustentável, economicamente sustentado e socialmente justo e eqüitativo” (LEFF, 2000, p. 140). Mas o autor adverte que o desenvolvimento sustentável somente será viável com o avanço dos direitos de apropriação de comunidades rurais e do incremento da capacidade de autogestão deste setor. Leff, coordenador da Rede de Formação Ambiental para a América Latina e Caribe, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), considera o ambiente como a visão de relações complexas e sinérgicas entre processos de ordem física, biológica, termodinâmica, econômica, política e cultural. O hábitat é o suporte ecológico do habitar ou a inscrição da cultura no espaço geográfico, onde o fator urbano torna-se insustentável.

O capital assumiu tal poder no atual modelo de desenvolvimento, de produção e de consumo que acabou transformando a cidade em um amontoado de pessoas, onde se congestiona o consumo, degrada-se a energia e acumula-se o lixo. A superexploração dos recursos naturais acontece no campo e na cidade e as consequências são: a desestruturação do entorno ecológico, o dessecamento dos lençóis freáticos, a extração dos recursos hídricos além da capacidade de suporte dos aquíferos e a saturação do ar. Tráfico, violência, turismo sexual, desigualdade social, pedintes, sem terra, sem escola, sem teto, sem comida, sem o mínimo necessário a uma vida digna são um “contrassenso da ideologia do progresso” (BOEIRA, 2002, p. 2). O “inchaço” das cidades está se dando porque o homem está sendo expulso do campo por falta de infraestrutura básica e, essencialmente, de políticas públicas adequadas para mantê-lo ali.

O saber ambiental é um processo complexo e em construção porque envolve aspectos variados e mudança de paradigma, tanto de quem consome, quanto de quem produz. Mas nem todos parecem dispostos a fazer esta mudança de hábito. A lógica do capital é o dinheiro, porém a capacidade de suporte do planeta é limitada. Por isso, talvez, haja uma tendência a condenar, por princípio, a modernidade e o liberalismo. Leff, de certa forma, parece permitir a compreensão da complexidade do saber ambiental, sem deixar ver que relação existe entre o saber e a modernidade. O pesquisador Genebaldo Freire, doutor em Ecologia, analista ambiental do IBAMA e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB), em palestra no Ceará, em 2007, intitulada "Desenvolvimento Sustentável – Arrogância e Utopia", declarou:

Mantidos o cinismo das formas de produção, crescimento populacional, aumento do consumo e políticas totalmente afastadas da relação ser humano-ambiente, não há a menor possibilidade de desenvolvimento sustentável. Nem teoricamente. Esse termo é extremamente arrogante. O que precisamos é de "Desenvolvimento de Sociedades Sustentáveis". Essa história de "salvar o planeta" é bobagem. Primeiro porque o planeta não está em risco, segundo porque não teríamos condições de salvá-lo, nem ele precisa disso. O planeta sempre esquentou, passou por períodos de glaciação e vai continuar sua escalada. Daqui a sete e meio bilhões de anos o sol apaga, congela... (entrevista à repórter Natercia Rocha, Diário do Nordeste, 25/11/2007).
No Brasil a discussão sobre desenvolvimento sustentável ganha ênfase na mídia a partir da Conferência da ONU em Estocolmo, Suécia, em 1972, como discurso político-ecológico da relação do homem com a natureza. Foi, inclusive, a partir da década de 1970 que a “acumulação de capital tomou forte impulso em escala mundial com o desenvolvimento técnico, científico, dos meios de comunicação e de transporte” (MARTINEZ, 2006, p. 12).

A mídia tem papel relevante na construção da Agenda 21 local e, portanto, deve contribuir mais para informar a população sobre a existência de políticas públicas para o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. André Trigueiro (2003) diz que os jornalistas precisam da transversalidade para transformar conhecimento em experiências e vice-versa. O autor explica que, além de informar, a imprensa deve adotar papel educacional, esclarecedor e orientador das políticas governamentais e das ações ambientais que devem ser aplicadas pelo homem para evitar prejuízos ao meio ambiente.

O Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho, é sempre celebrado com muitas ações por organizações ambientais, educacionais e governamentais. Livros sobre o tema são lançados, conferências são realizadas. Mas que não nos percamos todos pela efeméride e nos esqueçamos do meio ambiente no resto do ano. Todo dia é dia do meio ambiente. E, só lembrando, nós também fazemos parte do meio ambiente. Portanto, é preciso cuidar de cada um, em particular.

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