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segunda-feira, 27 de junho de 2011

A sétima arte e a ecologia

A Internet é a fonte para todas as buscas e o Dr. Google, o mestre que responde a todas as perguntas. O meu filho e, imagino, todos os estudantes, do primário ao universitário, já não realizam mais tarefas escolares sem a utilização dessa preciosa ferramenta. O perigo é não citar a fonte. Vários alunos meus na Faculdade caíram nessa esparrela, ao copiarem a resenha de um filme direto do Google. Perderam o ponto e tiveram que ir para a prova final.

Eu também faço as minhas buscas, mas sempre tenho cuidado de citar a fonte do saber, pois ninguém apenas ensina ou aprende; a vida é uma troca de saberes, esteja você na bancada do professor, na carteira do aluno, na chefia de um trabalho ou sendo subordinado, todos temos algo a aprender e a ensinar. Descobri no Blog Listas de 10 e repasso a dica de 10 filmes sobre ecologia. Para quem gosta de cinema, vale a pena ir ao http://listasde10.blogspot.com/2009/12/10-filmes-sobre-ecologia.html e conferir outras listas de 10.

Além do Dersu Uzala, cuja dica está ao lado, o Blog fala sobre:

Uma Verdade Inconveniente (o ex-vice presidente dos EUA, Al Gore, apresenta dados chocantes do aquecimento global, mostrando verdades e mitos e apontando saídas para salvar o planeta, enquanto é tempo. Gore sempre foi ecologista militante e este filme, fora algumas generalizações exageradas, tem importância na conscientização da população. o ex-vice - e, melhor dizendo, o filme - ganhou o prêmio Nobel da Paz por seu trabalho).

No Mundo de 2020 - Soylent Green (apesar do título nacional, o filme se passa em 2022, ufa! teremos 2 anos a mais! Charlton Heston é policial e investiga a morte de um magnata, produtor dos tabletes soylent green, o único alimento consumido pela população oprimida. Comida de verdade, só para os ricos. É chocante descobrir do que são feitos os tabletes. Lançado em 1973, foi encarado como ficção científica, hoje não parece tão improvável).

Wall-E (mais uma lista para esta animação. No passado, a população teve que abandonar o planeta, poluído demais e inabitável, deixando para trás um robozinho compactador de lixo. Séculos depois, a possibilidade de vida ressurge e a população pode reconstruir o planeta. Denúncia que não deve ser coadjuvante na compreensão do filme).

Síndrome da China (durante a gravação de matéria numa usina nuclear, a repórter e seu cinegrafista - Jane Fonda e Michael Douglas - presenciam um incidente, que causa apreensão geral. Mas a usina pressiona a rede para não publicar nada. Com a ajuda de um engenheiro - Jack Lemmon - eles descobrem que foi um fato gravíssimo, uma fissão que poderia penetrar a terra e "chegar à China", por isso o título. Filme premonitório dos graves acidentes ocorridos na União Soviética anos depois e em Fukushima, Japão, este ano de 2011!).


Silkwood, Retrato de uma Coragem (história real de trabalhadora de usina nuclear - Meryl Streep - que denuncia o ambiente insalubre e a insegurança deste tipo de instalação e acaba morta em circunstâncias mal-explicadas).

Erin Brockovich, uma Mulher de Talento (Julia Roberts é uma mãe solteira, que perde uma ação e exige ser empregada no escritório de seu advogado. Arquivando casos, ela descobre que uma grande fábrica tem poluído sistematicamente as águas da pequena cidade onde está instalada e isso tem ocasionado diversos casos de câncer na população. Baseado em história real).

Gomorra (entre as histórias deste filme-denúncia da máfia napolitana, está o lucrativo esquema de vender terras para despejar dejetos tóxicos, que transformam a área rural da cidade num ambiente perigoso. O lixo tóxico é um dos grandes problemas a se resolver, vide o caso dos containeres devolvidos para a Inglaterra).

Waterworld, o Segredo das Águas (num futuro não tão distante, o derretimento das camadas polares deixou o planeta sem terras sólidas, com os sobreviventes vivendo em ilhas artificiais e barcos. Kevin Costner é um ser anfíbio em busca do único ponto de terra firme que sobrou. Filme de Kevin Reynolds).

Corrida Silenciosa (Bruce Dern é um botânico que completa 3 anos a bordo de um cargueiro espacial, cuidando dos últimos espécimes botânicos que restaram no planeta Terra sob enormes domos. Quando recebe ordens de destruir o projeto e voltar para casa, ele sequestra a nave, mata os colegas tripulantes e inicia uma fuga solitária).

Recomendaria, ainda, o documentário, A 11ª Hora, de Leonardo DiCaprio, que mostra vários especialistas, em tom pedagógico, explicando como será possível evitar o desastre, algumas horas antes de que aconteça o pior. Urge uma total mudança de paradigma e de se adotar um modelo distinto de produção e consumo. O Planeta, como de outras vezes, com certeza sobreviverá, mas algumas espécies, como já ocorreu com os dinossauros, poderão se extinguir. Dessa vez poderá ser a espécie humana. Como diz o colunista: "Quem sobreviver, verá!"

sábado, 25 de junho de 2011

Sem motivos para amar?

(Recebi de Jane)


Pablo Massolar

Existe amor que dure a vida toda, que a tudo perdoe e não se desanime? Existe amor que se renova todos os dias porque tudo sofre, tudo espera, tudo crê?
Minha ingênua e sincera fé diz que sim, mas muitas vezes [às vezes a maioria das vezes] o meu coração/razão/vontade não encontra tal amor... ou, se ele está lá... se cansa de tentar procurá-lo e fazer reviver um sentimento assim. Não por falta de forças ou de coragem, mas por falta de motivos.
Onde encontrar motivos para amar, então? É possível encontrá-los quando já não queremos ou temos medo de nos machucarmos de novo?
Talvez as perguntas estejam sendo feitas da maneira errada, mas não sem verdade existencial... Todo mundo procura por estes motivos de vez em quando... Eu gostaria que minha resposta fosse tão simples quanto procurar no “Google”, mas eu não tenho boas notícias sobre encontrar motivos para amar, geralmente nunca se acha um bom motivo para se fazer isto.. É mais fácil não ter motivo para amar. Recusar-se a amar e trancafiar-se solitariamente dentro de uma torre alta ou mosteiro celibatário talvez seja a solução menos dolorosa.

Não amar evitaria comprometer o amor e a vida de mais algum inocente, quando, por exemplo, duas pessoas se amam e se deixam ser amadas, mas logo no início de suas caminhadas descobrem que é perigoso demais abrir o coração não só ao amor, mas às frustrações e confrontos que a vida a dois sempre causa. Ou, quem sabe, depois de muitos anos de caminhada juntos, descobrem que o motivo para se amar acabou faz tempo ou nunca, de fato, existiu. Donzelas amáveis e príncipes heróis encantados, cavalos brancos e o salvamento da princesa da torre são divertidos e empolgantes nas primeiras vezes, mas se torna enfadonho ter que se trancar na torre de novo para se proteger de uma dor ou de escalá-la perigosamente a fim de encontrar aventuras e motivações para amar todos os dias.
Não amar certamente anularia as dores e desilusões destes momentos, mas não é a decisão mais completa a ser tomada. Particularmente não creio que exista gente que foi feita para não amar; e também não creio em amor que vai e vem, que sobe e desce. Acredito no amor que fica, mesmo amassado, ferido, sozinho e nos faz ter esperança de ver hoje, no nosso agora dolorido, um horizonte amanhã, doce e ensolarado, talvez distante, mas alcançável de dias melhores, mais fáceis para se amar. Dificilmente encontra-se um bom motivo para amar persistentemente, mas quem disse que o verdadeiro amor precisa de motivos para ser amor?
O que me faz amar com vontade de amar não é o motivo, mas a consciência da existência inequívoca deste amor que está aqui dentro sem saber como. Não sei explicar, muito provavelmente ninguém conseguirá explicar, porque o amor é assim, mais forte que a morte, dolorosamente persistente, irrevogavelmente amante, paciente e benigno mesmo sem motivos. Já tentei entendê-lo, mas eu sei que só posso senti-lo.
O bom e verdadeiro amor não precisa saber dos motivos, jamais os procura ou avalia se é possível ou não amar, só sabe que sente amor e pronto. Vai lá de peito e vida abertos. Ele lança fora todo o medo, ainda que se tenha de matar um leão por dia e a gente vá deitar cansado todas as noites.
O amor sobrevive mesmo é de mãos dadas com a fé e a esperança. O abraço dado, o beijo paciente, a presença carinhosa certamente são expressões do amor, são veículos para nos sinalizar que ele existe e nos dar novo ânimo, mas quando não os encontramos não significa que não podemos amar ou que nos faltam motivos. Dificilmente entenderemos ou reconheceremos o verdadeiro amor somente nos atos e gestos físicos. O amor manifesta-se em dom/dádiva, no que é dado sem buscar interesses próprios, nem mesmo os interesses de atender às nossas carências afetivas são válidos para buscar amar. O amor manifesta-se sem motivo aparente, até sem condições, vem como um rolo compressor ou uma simples brisa, mas vem.
É possível negligenciar o amor, fazer de conta que não existe ou abafá-lo. É possível ficar tão duro ao amor que, mesmo ele existindo, não se queira mais senti-lo. O medo da dor pode causar tudo isso, mas podemos escolher viver por medo e não deixar o amor em paz ou por fé e esperança e fazê-lo brilhar como um sol.
Amar é a capacidade de doar-se sem querer nada em troca, talvez por isso o Senhor tenha dito que, no final dos tempos, o amor se esfriaria de quase todos. Uma sociedade que luta por poder e prestígio, que compra todas as coisas, admiração e domínio, que concorre traiçoeiramente pelos melhores lugares e pisa em cima de qualquer ameaça não entende nem aceita dar sem querer qualquer coisa como pagamento. Pessoas que se amam, mas se interessam mais por disputar quem ama mais do que simplesmente amar, gente que não sabe amar só por amar corre o sério risco de ver esfriar a sensibilidade ao amor.
Logo, não existe pagamento para quem ama de verdade. E quem assim ama, não aceita tais trocas e barganhas. Continua dando, amando, crendo e alimentando a esperança não do fim, mas do recomeço pleno e movido pela alegria de simplesmente amar todos os dias, tudo sofrendo, tudo crendo e tudo esperando, até mesmo o ressurgir da sensibilidade de amar.
O Deus que assim ama te abençoe rica, poderosa e sobrenaturalmente!

Rio de Janeiro, 4 de fevereiro de 2011

Nota importante: Jesus ensinou a dar de graça o que recebemos de graça. Se esta mensagem, de alguma forma, lhe fez bem, então provavelmente ela poderá fazer bem para outras pessoas que você conheça. Gostaria de sugerir, se não for constrangimento para você, que compartilhasse e encaminhasse este e-mail para o seu círculo de amigos e conhecidos. Fazendo isto você potencializa, em muito, o alcance da Palavra que já fez tanto bem aos nossos corações.

terça-feira, 21 de junho de 2011

A Miséria do Jornalismo



Como nunca antes na História deste País, toda vez que alguma coisa beneficia os mais pobres, é chamada de populismo. Existe populismo de direita, que agrada ao patronato e aos governantes? Sim, há. É o q faz o senhor Fábio Campos no O Povo de 9 de junho de 2011.
O amigo Fábio Campos diz que as "criancinhas" estão passando fome devido a greve dos professores. Populismo barato, senhor Campos. E quando não há greve, por que milhares de cearenses passam fome ou se alimentam mal?
Passam fome, Fábio Campos, porque o modelo econômico atual, o de Cid, que igual ao de Lúcio, que é igual ao de Ciro, que é igual ao de Tasso, é concentrador de renda, beneficia os mais ricos em detrimento dos pobres. Será que esse modelo é discutido pelos meios de comunicação com ênfase? Não, nao é. Não é bom irritar os donos do poder no Ceará.
Diz Fábio Campos que as crianças fora da escola geram problemas para as famílias. De forma emotiva, fala até de criancinhas remexendo lixo nas ruas. Quase fui às lágrimas nesse ponto. Poxa, Fábio Campos, você finalmente percebeu que há crianças nas ruas, comendo lixo, porque os professores estão em greve? Malditos sejam estes professores!
Percebe-se claramente que Fábio Campos desconhece por completo a realidade da escola pública. Fala do que não entende. Diz Fábio Campos que a maioria dos professores ganha o piso. Caro jornalista, procure se enteirar sobre a lei do Piso. A Lei do Piso não trata só de salário, não, meu caro- tem um bocado de coisa, que NENHUM governante do Ceará está cumprindo. Camarada Fábio, procure na internet a Lei do Piso. Há uma decisão do STF mandando cumpri-la. Cid e Luizianne não estão - ao contrário, enganam a opinião pública, pois estão alterando os Planos de Cargos e Carreira para burlar a referida Lei. Se há alguém cometendo ilegalidade aqui são os governantes, caro Fábio, não os professores.
O companheiro Fábio Campos diz ainda que os sindicatos não são legítimos, pois apenas alguns professores participam das assembleias e da greve em nome da categoria. Os professores, Fábio Campos, elegem os sindicalistas para representá-los. É a mesma coisa de um deputado ou um vereador. Na sua lógica, o Poder Legislativo seria ilegítimo também. Não é preciso, Fábio Campos, que toda a população esteja presente quando da votação de uma lei - os deputados não "representam o povo"? Um povo que cada vez mais se queda desamparado diante um Estado que não cumpre suas funções sociais e é usado para beneficiar grupelhos de empresários.

Atenciosamente
Airton de Farias
Professor e Historiador

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Nem tanto a Chico nem a Francisco - por um código florestal possível

Por Vilmar Berna


Na negociação dos conflitos envolvendo a reforma do Código Florestal está faltando política, no sentido mais nobre do termo, e sinceridade. Que o Código precisa ser reformado, qualquer ambientalista ou ruralista sério, que conheça minimamente o assunto, sabe que sim.

Estamos num país democrático, onde nem a vontade de um lado nem a do outro irão prosperar só por que se tem a maioria ou por que gritam mais alto. Assim, é absolutamente legitimo que os lados interessados queiram puxar a brasa para suas sardinhas. Por outro lado, a sociedade tem o direito de ser radical, fundamentalista, exigir seus direitos, tanto para o lado da produção e do mercado quanto para o lado do meio ambiente e das políticas públicas e cidadania.

Dependendo da situação, dos interesses em jogo, é preciso negociar um consenso em torno do que é possível e suportável para a convivência entre os diferentes lados em disputa. E para isso existem os políticos. Caberia a eles atuarem como intermediadores nos conflitos, entretanto, geralmente estão comprometidos com um dos lados, descredenciando-se para o diálogo pela falta de isenção. E é o diálogo que permite o ajuste das percepções e a busca dos pontos convergentes e o esclarecimento sobre os divergentes, onde nem sempre o consenso é possível. Às vezes a tensão pode durar uma vida inteira, e ainda assim a vida continua.

Neste caso do Código Florestal, os políticos deveriam ter se disposto mais ao diálogo, até que se chegasse a um consenso em torno do possível, que possibilitasse ao país continuar produzindo, sem detonar com o meio ambiente e considerando as diferenças entre quem produz para alimentar automóveis e animais nos países ricos, de quem produz alimentos para o povo brasileiro. Às vezes, o entendimento pode se tornar muito difícil e até impossível se os votos dos eleitores, os privilégios e cargos, os interesses de negócio, ou partidários, dependerem da pessoa não ser convencida

O campo de batalha não é o plenário dos Parlamentos, mas é a opinião pública. É comum vermos parlamentares discursando para plenários vazios, apenas para serem publicados no Diário Oficial ou gravados pelas televisões legislativas. Entretanto, bem longe de serem neutras e imparciais como gostam de dizer, assim como os políticos escolhem o lado de seus eleitores e patrocinadores, a mídia escolhe o lado dos seus assinantes e anunciantes. A sinceridade, a verdade, às vezes, é o que menos importa quando há muito em jogo e o risco de perder for grande.

* Vilmar Sidnei Demamam Berna é escritor e jornalista, fundou a REBIA - Rede Brasileira de Informação Ambiental (www.rebia.org.br ) e edita deste janeiro de 1996 a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente) e o Portal do Meio Ambiente ( www.portaldomeioambiente.org.br ). Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas - www.escritorvilmarberna.com.br

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Adolfo Pérez Esquivel escreve a Barack Obama

Estimado Barack, ao dirigir-te esta carta o faço fraternalmente para, ao mesmo tempo, expressar-te a preocupação e indignação de ver como a destruição e a morte semeada em vários países, em nome da “liberdade e da democracia”, duas palavras prostituídas e esvaziadas de conteúdo, termina justificando o assassinato e é festejada como se tratasse de um acontecimento desportivo.
Indignação pela atitude de setores da população dos Estados Unidos, de chefes de Estado europeus e de outros países que saíram a apoiar o assassinato de Bin Laden, ordenado por teu governo e tua complacência em nome de uma suposta justiça. Não procuraram detê-lo e julgá-lo pelos crimes supostamente cometidos, o que gera maior dúvida: o objetivo foi assassiná-lo.
Os mortos não falam e o medo do justiçado, que poderia dizer coisas inconvenientes para os EUA, resultou no assassinato e na tentativa de assegurar que “morto o cão, terminou a raiva”, sem levar em conta que não fazem outra coisa que incrementá-la.
Quando te outorgaram o Prêmio Nobel da Paz, do qual somos depositários, te enviei uma carta que dizia: “Barack, me surpreendeu muito que tenham te outorgado o Nobel da Paz, mas agora que o recebeu deve colocá-lo a serviço da paz entre os povos; tens toda a possibilidade de fazê-lo, de terminar as guerras e começar a reverter a situação que viveu teu país e o mundo”.
No entanto, ao invés disso, você incrementou o ódio e traiu os princípios assumidos na campanha eleitoral frente ao teu povo, como terminar com as guerras no Afeganistão e no Iraque e fechar as prisões em Guantánamo e Abu Graib no Iraque. Não fez nada disso. Pelo contrário, decidiu começar outra guerra contra a Líbia, apoiada pela OTAM e por uma vergonhosa resolução das Nações Unidas. Esse alto organismo, apequenado e sem pensamento próprio, perdeu o rumo e está submetido às veleidades e interesses das potências dominantes.
A base fundacional da ONU é a defesa e promoção da paz e da dignidade entre os povos. Seu preâmbulo diz: “Nós os povos do mundo...”, hoje ausentes deste alto organismo.
Quero recordar um místico e mestre que tem uma grande influência em minha vida, o monge trapense da Abadia de Getsemani, em Kentucky, Tomás Merton, que diz: “a maior necessidade de nosso tempo é limpar a enorme massa de lixo mental e emocional que entope nossas mentes e converte toda vida política e social em uma enfermidade de massas. Sem essa limpeza doméstica não podemos começar a ver. E se não vemos não podemos pensar”.
Você era muito jovem, Barack, durante a guerra do Vietnã e talvez não lembre a luta do povo norteamericano para opor-se à guerra. Os mortos, feridos e mutilados no Vietnã até o dia de hoje sofrem as consequências dessa guerra.
Tomás Merton dizia, frente a um carimbo do Correio que acabava de chegar, “The U.S. Army, key to Peace” (O Exército dos EUA, chave da paz): “Nenhum exército é chave da paz. Nenhuma nação tem a chave de nada que não seja a guerra. O poder não tem nada a ver com paz. Quanto mais os homens aumentam o poder militar, mais violam e destroem a paz”.Acompanhei e compartilhei com os veteranos da guerra do Vietnã, em particular Brian Wilson e seus companheiros que foram vítimas dessa guerra e de todas as guerras.
A vida tem esse não sei o quê do imprevisto e surpreendente fragrância e beleza que Deus nos deu para toda a humanidade e que devemos proteger para deixar às gerações futuras uma vida mais justa e fraterna, reestabelecendo o equilíbrio com a Mãe Terra.
Se não reagirmos para mudar a situação atual de soberba suicida que está arrastando os povos a abismos profundos onde morre a esperança, será difícil sair e ver a luz; a humanidade merece um destino melhor. Você sabe que a esperança é como o lótus que cresce no barro e floresce em todo seu esplendor mostrando sua beleza.
Leopoldo Marechal, esse grande escritor argentino, dizia que: “do labirinto, se sai por cima”.
E creio, Barack, que depois de seguir tua rota errando caminhos, te encontras em um labirinto sem poder encontrar a saída e te enterras cada vez mais na violência, na incerteza, devorado pelo poder da dominação, arrastado pelas grandes corporações, pelo complexo industrial militar, e acreditas ter todo o poder e que o mundo está aos pés dos EUA porque impõem a força das armas e invade países com total impunidade. É uma realidade dolorosa, mas também existe a resistência dos povos que não claudicam frente aos poderosos.
As atrocidades cometidas por teu país no mundo são tão grandes que dariam assunto para muita conversa. Isso é um desafio para os historiadores que deverão investigar e saber dos comportamentos, políticas, grandezas e mesquinharias que levaram os EUA á monocultura das mentes que não permite ver outras realidades.
A Bin Laden, suposto autor ideológico do ataque às torres gêmeas, o identificam como o Satã encarnado que aterrorizava o mundo e a propaganda do teu governo o apontava como “o eixo do mal”. Isso serviu de pretexto para declarar as guerras desejadas que o complexo industrial militar necessitava para vender seus produtos de morte.
Tu sabes que investigadores do trágico 11 de setembro assinalam que o atentado teve muito de “auto golpe”, como o avião contra o Pentágono e o esvaziamento prévios de escritórios das torres; atentado que deu motivo para desatar a guerra contra o Iraque e o Afeganistão, argumentando com a mentira e a soberba do poder que estão fazendo isso para salvar o povo, em nome da “liberdade e defesa da democracia”, com o cinismo de dizer que a morte de mulheres e crianças são “danos colaterais”. Vivi isso no Iraque, em Bagdá, com os bombardeios na cidade, no hospital pediátrico e no refúgio de crianças que foram vítimas desses “danos colaterais”.
A palavra é esvaziada de valores e conteúdo, razão pela qual chamas o assassinato de “morte” e que, por fim, os EUA “mataram” Bin Laden. Não trato de justificá-lo sob nenhum conceito, sou contra todas as formas de terrorismo, desde a praticada por esses grupos armados até o terrorismo de Estado que o teu país exerce em diversas partes do mundo apoiando ditadores, impondo bases militares e intervenção armada, exercendo a violência para manter-se pelo terror no eixo do poder mundial. Há um só eixo do mal? Como o chamarias?
Será que é por esse motivo que o povo dos EUA vive com tanto medo de represálias daqueles que chamam de “eixo do mal”? É simplismo e hipocrisia querer justificar o injustificável.
A Paz é uma dinâmica de vida nas relações entre as pessoas e os povos; é um desafio à consciência da humanidade, seu caminho é trabalhoso, cotidiano e portador de esperança, onde os povos são construtores de sua própria vida e de sua própria história. A Paz não é dada de presente, ela se constrói e isso é o que te falta meu caro, coragem para assumir a responsabilidade histórica com teu povo e a humanidade.
Não podes viver no labirinto do medo e da dominação daqueles que governam os EUA, desconhecendo os tratados internacionais, os pactos e protocolos, de governos que assinam, mas não ratificam nada e não cumprem nenhum dos acordos, mas pretendem falar em nome da liberdade e do direito. Como podes falar de Paz se não queres assumir nenhum compromisso, a não ser com os interesses de teu país?
Como podes falar da liberdade quando tem na prisão pessoas inocentes em Guantánamo, nos EUA e nas prisões do Iraque, como a de Abu Graib e do Afeganistão?
Como podes falar de direitos humanos e da dignidade dos povos quando violas ambos permanentemente e bloqueias quem não compartilha tua ideologia, obrigando-o a suportar teus abusos?
Como podes enviar forças militares ao Haiti, depois do terremoto devastador, e não ajuda humanitária a esse povo sofrido?
Como podes falar de liberdade quando massacras povos no Oriente Médio e propagas guerras e torturas, em conflitos intermináveis que sangram palestinos e israelenses?
Barack, olhas para cima de teu labirinto e poderás encontrar a estrela para te guiar, ainda que saibas que nunca poderás alcançá-la, como bem diz Eduardo Galeano. Busca a coerência entre o que dizes e fazes, essa é a única forma de não perder o rumo. É um desafio da vida.
O Nobel da Paz é um instrumento ao serviço dos povos, nunca para a vaidade pessoal.
Te desejo muita força e esperança e esperamos que tenhas a coragem de corrigir o caminho e encontrar a sabedoria da Paz.
Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz 1980.
Buenos Aires, 5 de maio de 2011

domingo, 24 de abril de 2011

A VIA SACRA II

O Nordeste está se consagrando como ponto turístico, durante o período da Páscoa, pelas encenações dos últimos momentos da passagem de Cristo pelo Planeta Terra. O ponto alto dessas mega produções teatrais está em Nova Jerusalém, Pernambuco. Aqui no Ceará, temos como ponto alto dessa celebração, as apresentações em Pacatuba e, agora, Paracuru. Em Fortaleza, além das encenações na Casa da Comédia, na Praça Verde do Centro Cultural Dragão do Mar e outras salas de Teatro, destaco a realizada este ano, pela Paróquia de Fátima, ao redor da Praça Pio IX, em frenta à Igreja, na Avenida 13 de Maio.

A encenação teve como base a Via Sacra apresentada no folheto da Campanha da Fraternidade 2011, distribuído pela CNBB-CE, Regional NE 1. Dando continuidade ao relato da atividade, sigo o acontecido a partir da sétima estação.

Esgotado, apesar da ajuda do Cirineu e de ter tido seu rosto enxugado por Verônica, Jesus cai por terra pela segunda vez. "Também nas cidades e nos campos os problemas ambientais se avolumam e os erros se repetem com a deslumbrante e frágil beleza da vida, sendo destruída em nome do crescimento econômico: prédios altíssimos à beira mar impedem a criculação do vento, a construção de enormes condomínios, destruindo as plantas nativas, a criação de caranguejos em cativeiro com a eliminação das regiões de mangues, a monocultura e o uso indevido de agrotóxicos."

Jesus, apesar do sofrimento, tem ainda força e alento para consolar as melheres que choram pelo caminho. E nós? "O que diremos a nossos filhos e netos quando nos cobrarem a continuidade da vida e a beleza da criação? Que planeta ficará para as futuras gerações? Que marcas das nossas ações e atitudes deixaremos impressas na história desse planeta?" Pense e repense suas atitudes, ainda há tempo de redimensionar a sua pegada ecológica.

Nova queda de Jesus. É o limite das forças humanas. "A terra também está esgotada. Mesmo agredida, busca renovar-se. Nesse tempo de impasse, de aquecimento global, a temperatura futura do planeta vai depender de nosso modo de produzir, de consumir, enfim, do modo como nos relacionamos com a terra." Urge uma total mudança de paradigma de quem produz e de quem consome para se alcançar a paz e a preservação da natureza.

Nós somos corresponsáveis por tudo que herdamos. Precisamos nos desvestirmos das tentações da glória e do poder, do orgulho e do preconceito para melhor defender a natureza e bem fazer o usufruto dos dons da criação, com amor e responsabilidade.

Ao maltratar o planeta, damos mau exemplo para as nossas gerações e exercemos o papel de torturadores, tal qual aqueles que pregaram Jesus na cruz. "É urgente fortalecer a ação educativa e evangelizadora, objetivando a construção de uma sociedade que cultive uma cultura de paz, de justiça, de consciência ambiental, frente à gravidade e à urgência dos problemas provocados pelo aquecimento global. O peso da cruz de Jesus está nas mãos marcadas dos que vagam sem destino e sem moradia nas grandes cidades, desterrados do seu chão e do seu lugar."

A morte representa apenas uma passagem para a verdadeira vida. Hoje, "a sociedade perdeu orespeito à vida e fere de morte o meio ambiente." É preciso compreender que por aqui estamos apenas para cumprir uma missão.

"Uma das principais estratégias de dominação de nossa sociedade é fazer com que não olhemos para nós mesmos com realismo. O poder dominante na sociedade sempre faz com que pensemos que nossos desejos e necessidades sejam aqueles proclamados pelos meios de comunicação e repetidos pela maioria. Precisamos enfrentar com coragem e determinação o que está de verdade acontecendo no planeta terra. A sociedade tecnológica oferece-nos uma falsa segurança, que poderá conduzir-nos rapidamente ao caos", admoesta o texto da décima terceira estação, quando Jesus é retirado da cruz.

Toda a criação espera ser libertada dos males da corrupção. Não apenas daquela praticada pelos políticos e pelas grandes corporações, mas também dos pequenos malefícios que fazemos no dia a dia, ao jogar um papel no chão, furar uma fila ou deixar de praticar uma boa ação.

Ter disponibilidade de servir a quem de nós necessita e zelar pela obra da criação, ajudando, assim, a preservar o planeta para o usufruto também das futuras gerações é cumprir ao extremo a nossa obrigação.

(Apoiado na Via Sacra da Campanha da Fraternidade 2011, Regional NE 1, CNBB)

A VIA SACRA I

Qual é a relação dos passos seguidos por Jesus Cristo em seus últimos momentos de sua passagem pela sua vida no Planeta Terra? A Campanha da Fraternidade de 2011 faz uma comparação entre as dores sofridas por Jesus no Calvário com as dores da Natureza, que, de certa forma, segundo ela, geme em dor profunda, ferida pelas atitudes nossas contribuindo como o nosso consumismo com a poluição e degradação.

A Paróquia de Fátima, na 13 de Maio, em Fortaleza, Ceará, realizou na manhã da sexta-feira da Paixão, uma interessante via sacra, na qual chamou a nossa atenção para os cuidados que devemos ter conosco e com o meio ambiente, do qual também fazemos parte todos nós. Durante o trajeto, encenado, estação por estação, alguns voluntários foram recolhendo o lixo espalhado pelo caminho ao redor da praça em frente à Igreja.

Na primeira estação há um paralelo entre a condenação de Jesus à morte e a mesma sentença a que estão submetidas as espécies animais e botânicas em extinção, pela ganância e a sede de poder e de ter da raça humana. "As florestas estão ameaçadas e com elas muitas espécies e muitas formas de vida", diz um trecho.

Comparado ao peso da cruz carregada por Jesus, no trajeto para o Calvário, o Planeta vê ferida a obra da criação. "A temperatura aumenta, a poluição cresce, o clima não tem estabilidade e se multiplicam as enchentes, as secas, as tempestades, as ameaças de desertificação, o degelo e o consequente aumento do nível das águas nos oceanos", reza a segunda estação.

A queda de jesus pelo caminho, sob o peso da cruz, equivale ao momento em que percebemos que o meio ambiente está por terra, devido ao enfraquecimento causado pelas feridas causadas pelo atual sistema de produção e de consumo, que exaure as reservas naturais do Planeta. Somente as "atitudes solidárias de quem valoriza a obra da criação e está disposto a abrir mão do consumismo, poderá evitar o desperdício e proporcionar o desenvolvimento sustentável", está descrito na terceira estação.

Que mãe não sofre ao ver o flagelo de seu filho ou de sua filha? Maria percebeu com grande dor e resignação toda a intensidade desse sofrimento. Assim é o "sofrimento da mãe natureza ao ver as suas criaturas (todas, humanas ou não), frutos do poder criador de Deus, sendo feridas da morte, sem ter para quem apelar", é o pedido desta quarta estação para que as autoridades adotem políticas públicas preventivas e de superação de situações que colocam a natureza em risco.

A quinta estação faz um chamamento para a participação solidária de todos para minizar os efeitos nocivos da nossa passagem pelo Planeta Terra. "Todos precisamos nos sentir corresponsáveis. Devemos começar na nossa própria casa, vivendo com simplicidade, revendo bens e recursos, tendo por base as necessidades reais, apoiando especialmente os mais fracos e empobrecidos".

Tal qual Verônica enxugou o rosto de Jesus, também nós devemos "saber ajudar e cuidar da terra desfigurada pela poluição, pelas queimadas, pelo lixo espalhado por toda a parte, pela ganância e ambição que envenena as águas, resseca e desertifica o planeta, impõe grande sofgrimento aos mais pobres."

A partir dessa estação fui atrás de um saco de 50 litros e enchi-o de lixo espalhado pela praça até chegar ao final da via sacra. É triste constatar quão pequeno é o respeito ao meio ambiente e a nós mesmos.

(Baseado no livro da Campanha da Fraternidade 2011 - Regional NE1 CNBB-CE).