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sábado, 15 de outubro de 2011

CTA - O Teatro Acontece no SESC Emiliano Queiroz

Um quilo de açúcar era o que se pedia para entrar e assistir os 4 esquetes da noite, 14 de outubro, no palco do SESC Emiliano Queiroz. Eram 4 experimentos, alguns estreando, outros já veteranos, dois autorais e outros dois de um dramaturgo sergipano. O atraso, ainda que pequeno, foi inevitável.

O Vizinho do 203, mostrado no FECTA-2011, já era bem conhecido de quase todos. Uma proposta ousada, adequada para o horário apresentado, trata das agruras e vicissitudes do homossexual, principalmente, quando este tem uma vida heterossexual para sustentar. Quanto à questão levantada pelo diretor Joca Andrade sobre a adequação ao público, eu considero que o público infantil presente é que estava no horário e local inadequados. Álvaro Renê e Luiz Almeida estão muito bem e não é necessário colar os lábios para mostrar que o beijo na boca existiu. Também não concordo com o diretor sobre a música do Chico Buarque. Não acho que exista “música heterossexual”. Música é música e ela pode servir e ser dedicada a quem se ama, independente de sexo. O hetero dedica ao outro sexo e o homo ao seu idêntico. Dizem que aquela música do Nat King Cole Aquellos ojos verdes é dedicada a um taxista que ele sempre pegava quando ia a Nova York, mas eu quando escuto a música só penso em uma morena linda de olhos verdes. Até aquela música do Martinho da Vila, Já tive mulheres..., quando ele fala, “mas nenhuma me satisfez como você me faz”, este você aí tanto pode ser u’a mulher quanto um homem, depende de quem escute ou cante. Fico pensando nas letras das músicas que o Fagner canta, muitos pensamos em mulher quando as escutamos mas ele, certamente as dedica a um parceiro. Não existe música hetero ou homossexual, a música é universal.

Deixe-me sonhar. Renata Forte, João Araújo e Tomzé (nos bastidores ou coxias) falam sobre uma temática recorrente no mundo atual. O drama do suicídio, de se pensar em tirar a vida, de se estar sempre por um fio é bastante comum. Há sempre outras maneiras de se resolver os dilemas e ser feliz. Era um experimento de estreia e os ajustes acontecerão naturalmente. Eu vi ali um precipício, uma ribanceira. O Joca viu um edifício. Essa é a riqueza da arte, as múltiplas interpretações que ela nos proporciona. Aliás, como já disse o Almeida Júnior, em um desses sábados no nosso curso do CITA, “A arte não é para ser compreendida, ela está posta para ser apreciada”.

Lilith, O paraíso não existe mais. O mito de Adão e Eva e o fruto proibido, uma concepção do Álvaro Renê, apresentado pelo mesmo. Desde os idos da Idade Média que essa temática é tratada. Acho que alguns conselhos do Joca servirão para melhor compor o personagem, principalmente, aquela troca de indumentária no palco, quando Adão se transforma em Eva. Concordo que a música brasileira, clássica ou popular, seria mais adequada. A cestinha, realmente, não tem como não evocar ao conto da Chapeuzinho Vermelho. É preciso pensar em outra forma para distribuir as maçãs, uma sacada genial.

O doce e amargo. Renata Leite e o seu parceiro apresentam um tema bem recorrente, o desencantamento entre os casais, o desgaste da relação. Quanto ao comentário do Joca, com relação ao “desperdício” do açúcar, o que tenho a dizer é que o público é bastante crítico com relação a essas coisas e pode ficar imaginando o quanto aquele açúcar faria bem em sua casa, por exemplo, ou em residências de pessoas carentes. A arrecadação deveria servir para doação. Eu tive esta sensação ao ver e rever a peça “E se...”, dirigida por Silvero, apresentação final dos Princípios Básicos noturno deste ano. O cenário era forrado de papel A4 e no final ainda há uma revoada destes papéis sobre o público. Quantas árvores tiveram de ser cortadas para produzir aquele papel? Mas, cabe a pergunta, havia jeito de ser diferente? É questão de pensar alternativas, tanto para o açúcar, quanto para o papel.

Talvez o Joca Andrade tenha lido bastante Stanislavsky e tenha querido desconstruir para que depois seja melhor reconstruído. Toda crítica deve ser aceita como uma fórmula para o nosso crescimento e aperfeiçoamento. Muito embora, tudo também é uma questão de opinião pessoal, que pode ser aceita, ou não, por nós. E sigamos o conselho de Steve Jobs: "Você pode encarar um erro como uma besteira a ser esquecida, ou como um resultado que aponta uma nova direção"

Agora uma reflexão final. Será que, tal como no jornalismo, no teatro tudo tem que ser tragédia? Só o que é, digamos, ruim ou negativo, pode ser apresentado, ou chama mais a atenção? Será que não podemos pensar em algo positivo, bom, como, por exemplo, chamar a atenção para a preservação ambiental, conservação da natureza, economia do uso da água etc.? Poderíamos ponderar algo assim, menos trágico ou negativo, mais positivo e prático para a nossa montagem?

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